quarta-feira, 25 de maio de 2011

ACADEMIA PESQUEIRENSE DE LETRAS E ARTES - APLA - 10 ANOS


O homem que semeia conhecimentos, não morre. Ele deixa frutos para serem colhidos por várias gerações. É este o legado dos que fazem a APLA. Eis aqui o juramento do acadêmico para reflexão, principalmente dos nossos jovens, nossa esperança de futuro. (Art. 30 do Regimento Interno da Academia).
“Prometo cumprir com responsabilidade e ética acadêmica o objetivo da Academia Pesqueirense de Letras e Artes, que está voltado para a disseminação e o fomento da língua, das artes, da cultura artística junto às populações da região, mormente os jovens estudantes dos diversos segmentos da cultura em geral, incentivando-os à produção literária em seus múltiplos aspectos.”

domingo, 22 de maio de 2011

DISCURSO DE POSSE NA ACADEMIA PESQUEIRENSE DE LETRAS E ARTES


SENHORES MEMBROS DA MESA,
MEUS CAROS CONFRADES E CONFREIRAS DA ACADEMIA PESQUEIRENSE DE LETRAS E ARTES,
MINHAS SENHORAS, MEUS SENHORES.


Sinto-me extremamente honrada em ocupar a cadeira de número 22 nesta Casa de Letras e Artes e devo confessar o temor que há em mim neste momento, por tamanha responsabilidade ora assumida. A principal razão desse temor é poder corresponder à pessoa que me antecedeu, Irmã Gazzinelli, minha mestra no Colégio Santa Doroteia e figura muito significativa para esta cidade onde viveu por quase meio século. Outra, pelo fato de passar a fazer parte de uma Instituição composta de membros fazedores de cultura, homens e mulheres íntegros desta sociedade da lendária terra de Ararobá, na qual me criei e aprendi a amar desde cedo.
A Patrona
Fazendo referência à Patrona desta cadeira, menciono aqui alguns dados biográficos dessa mulher que se radicou em Pesqueira, e que desempenhou importante papel no desenvolvimento da educação em todo o estado de Pernambuco. A Sra. Laudelina Câmara Benjamim, irmã de Alfredo de Arruda Câmara, religioso que, ordenado padre em 1928, foi designado pároco da Catedral de Sant’Águeda, motivo este que o levou a trazer a família do sertão, para aqui fixar residência.
A jovem Laudelina viveu na casa paroquial com a mãe, tendo iniciado os estudos na escola de uma professora conhecida por dona Mariquinha.
Nessa época as irmãs Doroteias, a convite de D. José Lopes, primeiro Bispo de Pesqueira, haviam aberto um educandário para meninas, com a ajuda dos proprietários das fábricas de doces e sociedade local, oferecendo o curso normal rural.
Laudelina ingressou talvez na primeira turma. Foi também aluna do jovem agrônomo Moacyr Britto de Freitas, que lecionava biologia e zootecnia, orientando as normalistas para a implantação de pequenas hortas e criação de animais domésticos. O Dr. Moacyr foi um dos proprietários das fábricas Peixe, pioneiro nos estudos científicos da ecologia em Pernambuco e Doutor Honoris Causa da UFRPE. É Patrono da cadeira de número 14 da Academia Pesqueirense de Letras e Artes.
 Dos tempos da adolescência e juventude em Pesqueira, Laudelina conservou ligações afetivas com as Irmãs Doroteias e também com jovens senhoras do seu tempo, entre elas: dona Santina Ventura, dona Ana Rita do Rego Barros, dona Cota e a poetisa Evangelina Maia Cavalcanti.
A família se transferiu para o Recife após a revolução de 1930, quando o Padre Arruda Câmara seria eleito deputado constituinte em 1934. Laudelina casou-se em 1940 com o coronel João Emerson Benjamim vindo a ter dois filhos: Emerson e Roberto.
Nomeada Inspetora Federal de Ensino, atuou em diversos estabelecimentos de educação. Teve grande influência na implantação da Inspetoria Seccional do Ensino Secundário, no Recife, que viria a dirigir por muitos anos até a aposentadoria.
         Preocupou-se em expandir o ensino médio para o interior do Estado, viabilizando a abertura de ginásios e colégios. Através de seleção e treinamento do magistério em cursos de suficiência, supriu a carência de professores formados nas faculdades de filosofia da capital, insuficientes para atender à demanda dos novos estabelecimentos de ensino. Incrementou o programa de bolsas de estudos para alunos de todo o Estado.
         Mesmo distante, a família não se desligou inteiramente de Pesqueira. O Monsenhor Arruda Câmara sempre contou com expressivas votações no município. A mãe, dona Emília Magalhães Câmara, fez um pedido aos familiares para ser sepultada no cemitério de Pesqueira. Foi atendida.
         Laudelina nunca esqueceu esta cidade e dos anos aqui vividos, rememorou episódios da sua juventude passando aos filhos e a outros familiares o amor pela terra pesqueirense.
         Faleceu no Recife em 14 de janeiro de 1996.
Minha antecessora,
Thalita Bamberg Gazzinelli, mineira da cidade de Teófilo Otoni, de origem alemã e italiana, identificou-se com Pesqueira, dedicando a maior parte da sua existência à educação no Colégio Santa Dorotéia, formando a juventude para vida.
Era possuidora de muitos dons e talentos naturais dados por Deus. Tocava órgão e piano. A música fazia parte da sua vida. Fez lindas composições para as festas de Sant’Águeda, nossa padroeira, de quem era devota. É autora da música do Hino da Academia, cuja letra é da poetiza Paula Frassineti Alves.
Em 1964 idealizou o conjunto Uirapuru, formado por um grupo de alunas do colégio que levou a boa música, durante muitos anos, por toda a região sob a batuta da grande maestrina.
Tive o privilégio de ser sua aluna nas disciplinas música e francês, obrigatórias no currículo do majestoso educandário à época.
Irmã Gazzinelli ensinava por vocação e ideal. Rígida e às vezes brava na sala de aula, com a finalidade única de levar conhecimentos às suas alunas. Lembro como se fosse hoje, quando ela sorteava um número da caderneta para a arguição. Aula de francês: “le numero dix huit” , eu tremia, era este o meu número. Guardei na memória tais quais as lições que ela me ensinou. Ainda sei rezar a Ave Maria em francês. E as aulas de música? Decorei as sete notas para nunca mais esquecer. “Com estas notas mágicas são construídas todas as músicas”. Dizia ela.
Destacou-se ainda como educadora, por ter desempenhado a missão de dirigir o internato de moças do colégio, durante décadas, onde muitas famílias de várias cidades da região e de outros estados confiavam suas filhas às irmãs Doroteias, para serem educadas dentro da mais completa disciplina e princípios cristãos. O internato funcionou até meados dos anos oitenta.
Há poucos dias consultei o google e tive oportunidade de ver fotos dessas jovens da época do colégio, muitas hoje avós, espalhadas por esse Brasil afora. Elas recordam com carinho os tempos do Santa Doroteia em companhia da saudosa Irmã Gazzinelli.
Ganhou respeito e admiração de várias lideranças da sociedade civil, política e eclesiástica. Por ocasião dos noventa anos do Santa Doroteia, em 19 de abril de 2009, foi homenageada recebendo a medalha Anísio Galvão da Câmara Municipal de Pesqueira.  Aos 98 anos e completamente lúcida, na ocasião, confidenciou a uma das suas antigas alunas: “A homenagem que a mim prestaram hoje foi tão grande que vai durar até a minha morte”.
Cidadã pesqueirense, recebeu Título Honorífico pelos bons serviços prestados à terra, e fez jus à medalha e à cadeira que ocupou na Academia, desde sua fundação no ano de 2001.
Irmã Gazzinelli chegou quase à plenitude dos seus noventa e nove anos de existência, dos quais quarenta e oito vividos em Pesqueira. Paciência, humildade, perseverança, amor ao próximo, suas maiores virtudes, e Fé, legado que ela nos deixou quando partiu no dia 02 de outubro de 2009.
Um pouco de mim.
Estou muito feliz em pertencer a esta Casa de Cultura onde farei o possível para dar o melhor de mim, oferecendo minha colaboração espontânea à entidade que me abriga, nesta terra a qual me adotou desde os doze anos de idade, quando minha família se transferiu da vizinha Belo Jardim, onde nasci, vindo fixar residência na então cidade industrial de Pesqueira. Aqui estudei, me formei, arranjei o primeiro emprego, fiz muitos amigos, casei com um pesqueirense nato com quem tive três filhos todos nascidos neste solo, ao sopé da imponente serra do Ororubá.
Na carta encaminhada ao presidente Aluiz Tenório de Brito, apresentando minha candidatura à cadeira de número 22, anexei ao “currículum vitae”, alguns trabalhos que tenho feito na área de literatura; livros publicados como autora e co-autora, participação em eventos, filiação em entidades literárias, além de outros na área de pintura. Juntei também meu diploma de graduação em Letras pela Faculdade de Arcoverde, do qual me orgulho, pois apesar de uma longa carreira bancária, a maior parte dedicada ao Banco do Nordeste em Pesqueira, sempre amei muito a literatura e foi depois de encerrar minhas atividades no banco, com filhos criados, que passei a me dedicar às letras e às artes, caminho pelo qual galguei este degrau.
 No ano de 2006, lancei meu primeiro livro, Crônicas de Uma Vida, uma história baseada em fatos reais, movida pela emoção, onde narro a trajetória de vida de minha mãe, com o qual a presenteei no seu aniversário de oitenta anos.
Convidei para prefaciar esse livro, o colega do Banco do Nordeste, jornalista e escritor William Pôrto, que em seu texto disse o seguinte: “Apesar de conhecer a autora há vinte anos, desconhecia os seus pendores literários. Como é que eu iria adivinhar que aquela colega com quem sempre conversava, tão ciosa dos seus deveres, franca, direta, era alguém com talento para as letras?”
 Com a repercussão de Crônicas de Uma Vida enveredei pelos caminhos do escrever passando a frequentar, a partir de então, a oficina de criação literária ministrada pelo renomado escritor pernambucano Raimundo Carrero. Em 2007 apresentei outro trabalho, a novela “Senhora de Si”, um misto de ficção e realidade que lancei também em Pesqueira por ocasião da festa do reencontro dos ex-alunos. Participei de várias antologias com outros escritores pernambucanos e tenho dois livros para serem publicados em breve, na área romance. Publiquei contos e crônicas no jornal local, “Pesqueira Notícias”.
 E se aqui estou, foi graças à votação de 20 de março, com que me consagraram os confrades acadêmicos e que corresponde a votos de boas vindas que muito me engrandecem. Minha gratidão àqueles que sufragaram o meu nome e aos que prestigiaram este pleito.
Quero agradecer a gentil, generosa e cordial saudação do confrade Givanildo Galindo aos novos acadêmicos.
Aproveitando esta oportunidade, agradeço o apoio do confrade Gilvan de Almeida Maciel, titular da cadeira no. 05, este expoente da cultura pesqueirense que muito me incentivou para esta candidatura a quem admiro pela sua retidão de caráter e amor por tudo o que faz.
Devo concluir, agradecendo à sociedade aqui presente, familiares, amigos, aos colegas do Grupo Boa Prosa e da oficina de Carrero que se deslocaram do Recife, à UBE/PE, representada pelo escritor Antônio Neto, enfim, aos confrades e confreiras com os quais me comprometo a cumprir as metas da Academia a serviço desta tão querida e amada terra da graça e da renda, berço de cultura, a “Atenas do Sertão” do Cardeal Arcoverde, a “Doce Pesqueira”, imortalizada na canção de Cláudio Almeida e Walter Ramalho.
                                           Pesqueira, 29 de maio de 2010.                              

quarta-feira, 11 de maio de 2011

SENHORA DE SI - Meu segundo livro - 2007


     No "Senhora de Si" , o real funde-se com o imaginário, as histórias são narradas da forma como o ficcionista gostaria que tivessem sido, sob sua ótica e experiências concretizadas na montagem do enredo.

a autora  
 
 Entramos no romance numa das manhãs claras da infância de Silvia, personagem principal da estória.. Toca o apito da fábrica, a mãe, já de pé, preparando o café. Na rua, os vendedores ambulantes e seus quitutes deliciosos. A amiga, que junto com ela, perfaz o caminho alegre rumo á escola, lugar encantado de suas remotas experiências. Um universo em harmonia nos é apresentado.
        Vem a adolescência, o imaginário em ebulição, os sonhos, o amor, as fantasias e também as frustrações. 
       A narrativa vai nos preparando para as grandes desilusões que estão por vir.
       Mas, e esse é o maior paradoxo, a personagem jamais se perde de si, como se, lá no fundo, fosse marcada pelo milagre da esperança, o que vai permitindo que ela encontre sempre novos começos, fazendo-a avançar corajosamente em busca de seu destino.          
      Comentário da apresentadora (Sônia Carneiro Leão -  Escritora e Pisicanalista)       
     



domingo, 8 de maio de 2011

O PRÊMIO DO ESCRITOR

    
Comecei a arrumar os livros na mesa de autógrafos. Um rapaz se aproximou procurando a escritora. Voltei-me. Sou eu.
 Era jovem, estava bem vestido. Os gestos simples com certa timidez que me chamou a atenção. Na certa não seria um dos convidados que iriam sentar naquelas mesas logo mais. Cumprimentou-me e falou: ouvi sua entrevista pelo rádio. Obrigada, você mora aqui na cidade?   Não Senhora, sou da Aldeia que fica por trás daquela serra. Desci para comprar o livro.
Autografei e agradeci ao índio que de imediato subiu a Serra do Ororubá com meu livro debaixo do braço. Ganhei a noite. Daquele momento em diante não importava o número de pessoas que iriam comparecer àquele tão esperado lançamento.
Um simples leitor, mesmo desconhecido, compensa todas as dificuldades que nos levam aos caminhos do escrever.
O escritor compartilha sentimentos e emoções com a humanidade, seja ele ficcionista ou não. A partir deste princípio a literatura é uma forma de incursão nas almas. Uma vez publicada, a obra não mais pertence a quem a escreveu, e somente àquele que a faz existir: o leitor.

terça-feira, 3 de maio de 2011

A ILUSÃO FICCIONAL


O conjunto da natureza humana forma uma unidade que estabelece reconhecimentos e instiga a leitura de um texto escrito por um ficcionista, onde o painel, criado astuciosamente, é composto de emoções e sentimentos expressados com segurança e perícia em domar o tempo para quem adentra no magnífico e intrincado mundo imaginário da ficção.
Não é loucura como possa parecer para alguns, mas reflexo de vivência daquele que escreve; o imprevisível, a peripécia do dramático que leva ao trágico retratado em criações pela palavra como condições de vidas futuras escritas por um passado. Isso estabelece vínculos embevecendo o leitor.
Tudo que os personagens vivenciam traz o selo de uma realidade vivida ou experimentada. Cabe ao leitor acreditar que o que está escrito é mais real do que a realidade que nasce da alma de um ficcionista.
A Ficção nos leva à leveza da vida.

Meu livro "Crônicas de Uma Vida"

 Crônicas de Uma Vida, meu primeiro livro. Publicado em 2006, escrito a partir de histórias ouvidas na infância, salvo no HD da minha memória e fotografado com câmera mental de recordação. Doces e também amargas lembranças.
Pelos idos dos anos 1950, na fase dos cinco a oito anos de idade, quando a televisão ainda não havia invadido nossas casas e as crianças ouviam histórias, os adultos conversavam nas calçadas, após o jantar, sentados nas cadeiras de balanço  e respirava-se o ar puro das noites de verão. Eu ficava sentada no chão ouvindo as narrativas de minha mãe, uma mulher simples, possuidora de uma memória e imaginação capaz de causar inveja a muitos letrados. Ela contava os causos e histórias de forma expressiva, quase teatral, o que me proporcionava longos serões durante as férias escolares. Os fatos narrados na obra acima, tratam da saga de uma família de imigrantes nordestinos fugindo da seca, seguindo-se a história de vida da filha mais velha. São acontecimentos da vida real onde um homem é portador de uma doença bipolar sendo vítima de omissão por parte da família por conta da ignorância. São acontecimentos recheados de episódios inaceitáveis e poucos normais dentro do cotidiano. Uma narração histórica com enredo indeterminado.